A Palavra do Pastor

O horizonte missionário do quarto Evangelho   

    No calendário litúrgico alguns meses são temáticos, tais como: maio – mês mariano, agosto – mês vocacional, setembro – mês da Bíblia, etc. Estamos no mês de outubro, cuja temática a ser refletida e vivenciada é a missão. A origem do mês missionário remonta ao pedido de um grupo de seminaristas feito ao papa Pio XI no dia 14 de abril de 1926, a partir de então foi instituído o dia mundial de orações e contribuições para a missão da Igreja universal. Ele próprio, numa celebração em Roma, após a homilia, tirou seu solidéu (aquele gorro branco do papa), e, fazendo-o passar entre os ardeais e bispos presentes, realizou uma coleta para as missões. Foi um gesto profético do papa, que hoje repetimos todos os anos no penúltimo domingo de outubro – dia mundial das missões. Neste artigo desenvolveremos tal temática no contexto do evangelho de João. Nenhum escrito do Novo Testamento utiliza com tanta frequência quanto o quarto evangelho os verbos que designam a idéia de missão. O Pai que me enviou (12,49) é uma fórmula que sinteticamente resume o significado da pessoa e da obra de Jesus. O Filho saiu do Pai (8,42), desceu (3,13; 6,33) e veio ao mundo (3,19; 6,14) em virtude de uma missão. Este lugar central dado ao conceito de enviar sugere, portanto, que a missão é a hermenêutica fundamental do evangelho de João. O verbo mandar é de grande relevância no quarto evangelho, cujo significado fundamental consiste em acentuar a iniciativa absoluta do Pai no envio do Filho ao mundo. Quem ler o texto-chave sobre a missão neste evangelho (3,16-17), verifica que na própria origem da missão do Filho por parte do pai está o amor: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu filho único...”(3,16). Compreende-se então porque frequentemente o verbo mandar esteja unido ao verbo dar na mesma frase. Se o Pai não é somente o mandante, mas também o Doador, então se constata que a relação de missão (12,49) consiste em uma doação total e completa do Pai ao Filho (3,35); esta doação recíproca do Pai e do Filho forma uma unidade de ser (8,16.29) e não simplesmente uma representação jurídica.

                Na primeira parte do evangelho de João verifica-se que a obra é totalmente orientada para a cruz. Esta centralidade da paixão de Jesus é confirmada através da seguinte observação: os primeiros capítulos de João abraçam dois anos e meio de sua vida, ao passo que os nove seguintes são consagrados as duas últimas semanas em Jerusalém. Portanto o teor e o escopo da missão de Jesus é a hora de sua morte e de sua ressurreição: “E chegada a hora em que será glorificado o Filho do Homem” (12,23). A reflexão mais profunda acerca da hora se acha nos primeiros cinco versículos da oração de Jesus ao Pai (Jo 17,1-5). Esta oração de fato exalta continuamente a dependência de Jesus concernente a sua missão recebida do Pai. Poderíamos dizer que todo o ministério terrestre de Jesus foi uma vida em missão (Jo 17,3.8.21.23.25); a sua missão histórica teve em mira a glorificação de seu Pai. Cuja realização torna-se concreta após a missão messiânica. A missão de Jesus não se esgotou em seu agir terreno, mas continua mediante as obras daqueles que acreditarão nele. Como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviarei ao mundo (17,18).  A partir do momento em que foram chamados por Jesus, os discípulos são convidados a participar na mesma missão de salvação do mundo. A missão dos discípulos é modelada pela obediência de fé que caracterizou toda a missão histórica de Jesus: eles não estão na origem da salvação nem tão pouco da fé dos destinatários da pregação, mas agem fundamentalmente no espaço criado pela revelação histórica de Jesus.

 


  Padre Ednaldo Vírgilio da Cruz

Administrador Paroquial Matriz da Sagrada Família